sexta-feira, 5 de abril de 2013

Paciente tem casamento realizado no Hospital do Câncer

União foi celebrado nesta manhã por um capelão da aeronáutica, que mantém apoio ao HCP. Agora, Reginaldo e Laudicéia estão juntos na saúde e na doença. Foto: Ed Wanderley/DP/D.A. Press (Ed Wanderley/DP/D.A. Press)


Quem acredita que o amor vem sem esforço e relacionamentos devem fluir sem muito esforço de ambas as partes nunca teve a razão posta à prova. Certamente também não conhece nenhum casal como Reginaldo e Laudicéia. Os dois se casam hoje, em uma cerimônia evangélica no lugar que, de certa forma, os uniu: o Hospital do Câncer de Pernambuco. Com um tumor metastático no pulmão, o rapaz, de Lagoa de Itaenga e apenas 22 anos, será submetido a uma delicada cirurgia na próxima segunda-feira (8), ironicamente, Dia Internacional de Combate ao Câncer. O casamento foi marcado e realizado em apenas seis dias. A esperança é que a força de uma união espiritual o ofereça força e conforto a ambos. Na prática, a esposa o oferece mais um, e definitivo, motivo para “voltar”. Reginaldo Carlos da Silva Filho, 22, conhece a face da enfermidade como ninguém. O lembrete do poder destrutivo de um câncer está em frente aos olhos, na perna amputada graças a um tumor no fêmur, em 2008. Até então, como companheira, o artista plástico tinha apenas a cadeira de rodas que herdou da doença. Após meses recluso na própria depressão, o pernambucano encontrou na rede mundial de computadores uma forma de expandir o “mundo-quase-bolha” que passou a viver no interior do estado. Entre uma e outra conversa com uma irmã que vive em São Paulo, fez contato virtual, em 2012, a prima, Laudicéia Rute da Silva, a quem prometeu conhecer. 
A balconista de 30 anos encontrou o pernambucano apenas uma semana depois, em maio do ano passado. Até então, influenciada por fotos e webcams da tela fria de um computador, desconhecia a realidade dos dramas e cicatrizes carregadas pelo primo, ainda que ouvisse familiares falarem sobre suas dificuldades. Enxergou além delas. Reginaldo e Laudicéia concordam em dizer que experimentaram, pela primeira vez, um amor à primeira vista. E quem há de discordar? Com a sombra de um novo diagnóstico de câncer na história dele, desta vez a tirar-lhe o ar dos pulmões, a mulher largou emprego, lembranças e oportunidades. Empacotou a própria vida em duas pequenas malas, venceu o receio da decisão e os mais de três mil quilômetros para encontrá-lo. A mudança fez efeito: em dezembro, após a terceira cirurgia, o artista plástico pôde deixar o hospital e seguir o tratamento em casa. No mês em que o frevo dominava os pés de todos os demais pernambucanos, as solas de Reginaldo e Laudiceia caminharam pelo corredor de um cartório para formalizar a união que, sabiam, seria, de uma forma ou outra, eterna. 
Foto: Ed Wanderley/DP/D.A. Press (Ed Wanderley/DP/D.A. Press)

 Com risos nos rostos, e sob um coral de lágrimas de pacientes, equipe médica e voluntários, uniram-se, na manhã desta sexta-feira (5), perante o Deus a quem agradecem, todos os dias, por terem se conhecido. No roteiro, não houve grandiosa festa. Também não houve listas de presente de casamento. Mas noivos e testemunhas explodem ao tão esperado beijo. Nada mais se faz necessário. Os votos de amor inabalável foram pronunciados na certeza de que não há mal que o amor não cure.
Foto: Ed Wanderley/DP/D.A. Press (Ed Wanderley/DP/D.A. Press)
DIÁRIO DE PE

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