Paciente tem casamento realizado no Hospital do Câncer
Quem
acredita que o amor vem sem esforço e relacionamentos devem fluir sem
muito esforço de ambas as partes nunca teve a razão posta à prova.
Certamente também não conhece nenhum casal como Reginaldo e Laudicéia.
Os dois se casam hoje, em uma cerimônia evangélica no lugar que, de
certa forma, os uniu: o Hospital do Câncer de Pernambuco. Com um tumor
metastático no pulmão, o rapaz, de Lagoa de Itaenga e apenas 22 anos,
será submetido a uma delicada cirurgia na próxima segunda-feira (8),
ironicamente, Dia Internacional de Combate ao Câncer. O casamento foi
marcado e realizado em apenas seis dias. A esperança é que a força de
uma união espiritual o ofereça força e conforto a ambos. Na prática, a
esposa o oferece mais um, e definitivo, motivo para “voltar”. Reginaldo
Carlos da Silva Filho, 22, conhece a face da enfermidade como ninguém. O
lembrete do poder destrutivo de um câncer está em frente aos olhos, na
perna amputada graças a um tumor no fêmur, em 2008. Até então, como
companheira, o artista plástico tinha apenas a cadeira de rodas que
herdou da doença. Após meses recluso na própria depressão, o
pernambucano encontrou na rede mundial de computadores uma forma de
expandir o “mundo-quase-bolha” que passou a viver no interior do estado.
Entre uma e outra conversa com uma irmã que vive em São Paulo, fez
contato virtual, em 2012, a prima, Laudicéia Rute da Silva, a quem
prometeu conhecer.
A
balconista de 30 anos encontrou o pernambucano apenas uma semana
depois, em maio do ano passado. Até então, influenciada por fotos e
webcams da tela fria de um computador, desconhecia a realidade dos
dramas e cicatrizes carregadas pelo primo, ainda que ouvisse familiares
falarem sobre suas dificuldades. Enxergou além delas. Reginaldo e
Laudicéia concordam em dizer que experimentaram, pela primeira vez, um
amor à primeira vista. E quem há de discordar? Com a sombra de um novo
diagnóstico de câncer na história dele, desta vez a tirar-lhe o ar dos
pulmões, a mulher largou emprego, lembranças e oportunidades. Empacotou a
própria vida em duas pequenas malas, venceu o receio da decisão e os
mais de três mil quilômetros para encontrá-lo. A mudança fez efeito: em
dezembro, após a terceira cirurgia, o artista plástico pôde deixar o
hospital e seguir o tratamento em casa. No mês em que o frevo dominava
os pés de todos os demais pernambucanos, as solas de Reginaldo e
Laudiceia caminharam pelo corredor de um cartório para formalizar a
união que, sabiam, seria, de uma forma ou outra, eterna.
Com
risos nos rostos, e sob um coral de lágrimas de pacientes, equipe
médica e voluntários, uniram-se, na manhã desta sexta-feira (5), perante
o Deus a quem agradecem, todos os dias, por terem se conhecido. No
roteiro, não houve grandiosa festa. Também não houve listas de presente
de casamento. Mas noivos e testemunhas explodem ao tão esperado beijo.
Nada mais se faz necessário. Os votos de amor inabalável foram
pronunciados na certeza de que não há mal que o amor não cure.
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