A medida foi motivada após denúncias de que padres e outros membros das irmandades podem estar envolvidos na venda ilegal de túmulos no Cemitério de Santo Amaro. Em reunião interna com os vigários gerais, ontem, ficou decidido que a Arquidiocese deve contribuir com as investigações da Polícia Civil e se posicionar oficialmente sobre o o caso. Uma lista com os nomes das 39 irmandades que possuem túmulos no cemitério está nas mãos do arcebispo, que pode decidir pela intervenção delas.
O monsenhor Albérico de Almeida, um dos vigários-gerais, já havia antecipado que, caso as denúncias fossem confirmadas, seria necessária a intervenção nas irmandades. Apesar de possuírem autonomia, os bens podem ser transferidos para a Igreja, passando a um bispo a responsabilidade pela administração. “Algumas não podem vender ou alugar túmulos”, pontuou Almeida. Diante do mal-estar na Arquidiocese, integrantes da Igreja se reuniram, ontem, com representantes da Polícia Civil para pedir mais detalhes sobre o caso.
O delegado Adelson Barbosa, que está à frente do inquérito, afirmou que 40 depoimentos, entre eles de quatro padres, já foram colhidos. “Notas fiscais falsas, anexadas ao inquérito, com CNPJ das irmandades, comprovam que o grupo age há no mínimo seis anos. Os padres alegam autonomia das irmandades, mas a Igreja precisaria supervisioná-las”, pontuou. Ontem, mais uma vítima foi ouvida. As testemunhas relatam que os funcionários das funerárias alegam falta de vagas no cemitério, que custaria R$ 78,80 (sem contar a taxa de R$ 38,80), por isso a necessidade de recorrer aos túmulos religiosos, com preços superfaturados como mostrou o Diario com exclusividade. Pelo menos seis funerárias são investigadas.
No inquério consta que os suspeitos se aproveitam da fragilidade das pessoas, no momento da perda de familiares, e comercializam túmulos das irmandades por até R$ 800. “Via de regra, R$ 300 seria repassado às irmandades, o restante ficaria com o grupo. Apesar do repasse de parte da quantia, funcionários dessas entidades podem estar envolvidos no esquema”, disse o delegado.
Venda ilegal em Guadalupe
Uma nova denúncia de suposta venda ilegal de túmulos, desta vez no Cemitério de Guadalupe, em Olinda, chegou ao conhecimento do Diario. Um telefonema anônimo, após publicação da reportagem exclusiva, relatou que vagas também eram repassadas por representantes de irmandades religiosas por altos preços naquele local. Paulo Melo, que trabalha como administrador do cemitério há 20 anos, se mostrou surpreso com a informação. Ele confirmou que há cerca de 40 túmulos de três entidades ligadas à Igreja Católica.
De acordo com Melo, quando uma pessoa procura o local para sepultar um familiar e não há vagas disponíveis pela prefeitura, ele encaminha para representantes de uma das irmandades. “É cobrado R$ 400, sendo que R$ 130 é a taxa da prefeitura. O resto vai para a Igreja. A negociação é feita diretamente com as entidades, mas acredito que não é cobrado nada a mais que isso”, afirmou.
Procurado pelo Diario, o delegado Adelson Barbosa orientou que as pessoas que se sentirem lesadas devem se dirigir à delegacia mais próxima para denunciar o caso. “Como sou titular da Boa Vista, não posso investigar outros cemitérios que não fazem parte da área central do Recife”, explicou. Segundo Paulo Melo, o Cemitério de Guadalupe possui 460 túmulos ou gavetas, como também são conhecidos. DIÁRIO DE PE
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