A sirene do carro do Corpo de Bombeiros disputava com as buzinas, os gritos, os choros e os versos das canções eternas de Reginaldo Rossi. Entre lágrimas, sorrisos e, com o perdão à majestade, cachaça, Pernambuco se despediu do inconteste Rei. Depois da sexta-feira e sábado de velório público na Assembleia Legislativa de Pernambuco, o corpo seguiu em cortejo de uma hora e meia até o Cemitério Morada da Paz, acompanhado pelas ovações de milhares de fãs à beira da estrada.
A hora do adeus foi 19h40, ao som de Recife, minha cidade, hino em homenagem ao lugar onde nasceu e escolheu para viver, após missa restrita à família e mais uma hora para a despedida dos fãs. O corpo foi enterrado em um jazigo perpétuo da família, com três covas de três gavetas cada, localizado na rampa principal do cemitério, com um lago ao redor, no valor de R$ 350 mil.
Mais de cinco mil súditos foram a Paulista se despedir do Rei do Brega. Mais de 50 coroas foram depositadas sobre o caixão. Rossi foi embora como viveu. Nos braços do povo. Entre personalidades, artistas e políticos. Mas, principalmente, entre anônimos, a quem nunca negou um autógrafo, uma foto, um beijo, um abraço, uma dança. Uma história para contar. Dona Thomyres Aragão, 79, foi ao enterro “fugida da família”. A técnica de enfermagem Carmem Feitosa, 59, carregava o LP A volta, autografado em 1980.
Bêbados, muitos bêbados, agradeciam aos gritos, falavam do encontro com o Rei, cantavam, mandavam beijos em direção ao caixão. Com lágrimas nos olhos, os fãs fizeram festa no cemitério. A família seguiu os passos de Rossi. Aproximou o Rei dos súditos. Aumentou o volume do som, deixou que todos acompanhassem os clássicos inesquecíveis.
Rossi recebeu de volta o carinho distribuído, sem distinção de título, classe, cor, gênero, nos mais de 50 anos de carreira. Mais do que um ícone para a música romântica brasileira, um estímulo para os contemporâneos e uma referência para os artistas da nova geração, o exemplo de ser humano que foi estava latente nas declarações de familiares, amigos e desconhecidos. As músicas se eternizam por si. A lição de simplicidade, respeito e humildade precisa ser preservada. Vida longa ao Rei.DIÁRIO DE PE
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