quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Delegado acusa supostos canibais de envolvimento com seita satânica

 / Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem


Do JC Online

Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem

A primeira parte do julgamento das três pessoas acusadas de canibalismo em Olinda, no Grande Recife, terminou no início da tarde desta quinta-feira (13). A previsão é de que a audiência só termine na sexta-feira (14) e se extenda pela madrugada. Muitas pessoas acompanham o juri popular, que teve início às 9h45 no Fórum de Olinda, que teve 130 vagas disponibilizadas entre curiosos, estudantes e imprensa. O julgamento é presidido pela juíza Maria Segunda.
Jorge Beltrão Negromonte da Silveira e sua esposa, Isabel Cristina Pires da Silveira, além de Bruna Cristina Oliveira da Silva são acusados de matar Jéssica Camila da Silva Pereira, em 2008, em Rio Doce, bairro de Olinda. Os três confessaram ter esquartejado e comido parte do corpo da vítima, usando a carne como recheio de empadas. A prisão dos suspeitos foi em 2012. O trio também é acusado de outros crimes em Garanhuns, Agreste pernambucano.
O julgamento começou com o sorteio dos jurados. Foram escolhidas sete pessoas, sendo quatro mulheres e três homens. Após a leitura da denúncia, o psiquiatra Lamartine Hollanda foi o primeiro a depor. O psiquiatra forense analisou a defesa de Jorge, que alegou que o acusado sofre de esquizofrenia. "Nao cabe este rotulo de esquizofrenia no caso de Jorge. Ele sabia o que fazia, ele planejava tudo e tinha consciência dos seus atos" explicou. Sobre Isabel, que chorou durante a apresentação da denúncia e foi consolada pelo marido, Lamartine disse que ela é uma pessoa comum, ansiosa e imatura. "Ela procurou dar desculpas, acredito que orientada, e colocava a culpa em outro", conta. Sobre Bruna, o psiquiatra destacou o egoísmo. "Ela é uma pessoa que se mostra imatura e atriz. Uma pessoa que se mostea egoísta."
O segundo depoente foi o delegado Paulo Berenguer, que informou detalhes sobre o ritual usado pelo trio para matar as vítimas. Berenguer explicou que as mortes faziam parte de um ritual satânico com o objetivo de purificar a alma das vítimas. "Segundo a seita, o sangue seria usado para purificar o corpo e a alma. Segundo Jorge, cada pedaco era um elemento da natureza que abriria um portal para falar com deus. Bruna disse que os restos mortais foram suspensos nas paredes, enterrados na casa e outros teriam sido levados pelo caminhão de limpeza urbana. Depois do crime, Jorge retirou o dinheiro da previdência do irmão, com o uso de documentos falsos, e foram para a Paraíba", analisou.
Quem falou primeiro com o delegado foi a representante do Ministério Público, a promotora Eliane Gaia. As perguntas eram a respeito do procedimento utilizado pelo grupo para matar a vítima e a forma como eram escolhidas as pessoas. Segundo Berenguer, o grupo procurava mulheres que não trabalhassem. "O objetivo da seita seria eliminar mulheres que não produzam para a sociedade. Elas eram eliminadas para purificar as almas e fazer um controle populacional na sociedade", explicou. Jéssica, a vítima morta em Olinda, estava desempregada quando foi aliciada por Bruna, que ofereceu para ela uma vaga de empregada doméstica.
Após ser levada para o local do crime por Bruna, Jéssica teria sido imobilizada por Jorge e Isabel. A mulher morreu com um corte no pescoço, local onde o corpo libera mais sangue. Após a morte, o corpo foi esquartejado, alguns pedaços foram enterrados e pendurados em uma parede, para que, segundo o trio, a alma pudesse subir aos céus. O destino de outras partes do corpo ainda é incerto. Segundo o delegado, eles eram levados para um local chamado de "terreno sagrado". Bruna afirmou que eles foram levados em um saco para o lixo.
O delegado também apresentou o livro escrito por Jorge, no qual eram relatadas todas as etapas dos assassinatos. No livro, Jorge escreveu trechos da Bíblia e desenhou imagens que representavam suas conversas com os psicólogos, após a prisão.
O grupo também é acusado de falsificação de documentos, em dois casos. O primeiro caso é o da filha da mulher morta. O grupo falsificou os dados da criança para registrá-la no nome do casal. No outro caso, Jorge falsificou os documentos para se passar pelo irmão e resgatar o dinheiro da Previdência, que seria utilizado para cometer outros crimes.
A defesa também fez perguntas ao delegado Paulo Berenguer. O conteúdo das perguntas envolvia o relacionamento do trio e informações sobre a conduta do casal. Pelo conteúdo subjetivo, algumas perguntas não foram respondidas e a defesa foi interrompida diversas vezes pela juíza. "Eu não tenho como me deter a responder essas perguntas porque me baseei nos fatos. Isso é da intimidade deles", explicou Berenguer.
O delegado ainda informou que o grupo tinha interesse de cometer outros crimes em Olinda. Pelas investigações da polícia, outras três pessoas já haviam sido recrutadas para novos assassinatos. As possíveis novas vítimas foram identificadas como Paloma, Maria Carolina e Orlanda.
Durante toda a duração da primeira parte do julgamento, Jorge se manteve imóvel, apenas escutando o que os depoentes falavam e sem demonstrar nenhuma reação. Isabel chegou a chorar algumas vezes e demonstrou muito nervosismo. A terceira acusada, Bruna também demonstrou nervosismo. O julgamento continua após o intervalo, com o depoimento dos réus, e seguirá até a conclusão da análise da juíza.

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