Do JC Online
Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
A primeira parte do
julgamento das três pessoas acusadas de canibalismo em Olinda, no Grande
Recife, terminou no início da tarde desta quinta-feira (13). A previsão
é de que a audiência só termine na sexta-feira (14) e se extenda pela
madrugada. Muitas pessoas acompanham o juri popular, que teve início às
9h45 no Fórum de Olinda, que teve 130 vagas disponibilizadas entre
curiosos, estudantes e imprensa. O julgamento é presidido pela juíza
Maria Segunda.
Jorge Beltrão Negromonte da Silveira e
sua esposa, Isabel Cristina Pires da Silveira, além de Bruna Cristina
Oliveira da Silva são acusados de matar Jéssica Camila da Silva Pereira,
em 2008, em Rio Doce, bairro de Olinda. Os três confessaram ter
esquartejado e comido parte do corpo da vítima, usando a carne como
recheio de empadas. A prisão dos suspeitos foi em 2012. O trio também é
acusado de outros crimes em Garanhuns, Agreste pernambucano.
O julgamento começou com o sorteio dos
jurados. Foram escolhidas sete pessoas, sendo quatro mulheres e três
homens. Após a leitura da denúncia, o psiquiatra Lamartine Hollanda foi o
primeiro a depor. O psiquiatra forense analisou a defesa de Jorge, que
alegou que o acusado sofre de esquizofrenia. "Nao cabe este rotulo de
esquizofrenia no caso de Jorge. Ele sabia o que fazia, ele planejava
tudo e tinha consciência dos seus atos" explicou. Sobre Isabel, que
chorou durante a apresentação da denúncia e foi consolada pelo marido,
Lamartine disse que ela é uma pessoa comum, ansiosa e imatura. "Ela
procurou dar desculpas, acredito que orientada, e colocava a culpa em
outro", conta. Sobre Bruna, o psiquiatra destacou o egoísmo. "Ela é uma
pessoa que se mostra imatura e atriz. Uma pessoa que se mostea egoísta."
O segundo depoente foi o delegado Paulo
Berenguer, que informou detalhes sobre o ritual usado pelo trio para
matar as vítimas. Berenguer explicou que as mortes faziam parte de um
ritual satânico com o objetivo de purificar a alma das vítimas. "Segundo
a seita, o sangue seria usado para purificar o corpo e a alma. Segundo
Jorge, cada pedaco era um elemento da natureza que abriria um portal
para falar com deus. Bruna disse que os restos mortais foram suspensos
nas paredes, enterrados na casa e outros teriam sido levados pelo
caminhão de limpeza urbana. Depois do crime, Jorge retirou o dinheiro da
previdência do irmão, com o uso de documentos falsos, e foram para a
Paraíba", analisou.
Quem falou primeiro com o delegado foi a
representante do Ministério Público, a promotora Eliane Gaia. As
perguntas eram a respeito do procedimento utilizado pelo grupo para
matar a vítima e a forma como eram escolhidas as pessoas. Segundo
Berenguer, o grupo procurava mulheres que não trabalhassem. "O objetivo
da seita seria eliminar mulheres que não produzam para a sociedade. Elas
eram eliminadas para purificar as almas e fazer um controle
populacional na sociedade", explicou. Jéssica, a vítima morta em Olinda,
estava desempregada quando foi aliciada por Bruna, que ofereceu para
ela uma vaga de empregada doméstica.
Após ser levada para o local do crime
por Bruna, Jéssica teria sido imobilizada por Jorge e Isabel. A mulher
morreu com um corte no pescoço, local onde o corpo libera mais sangue.
Após a morte, o corpo foi esquartejado, alguns pedaços foram enterrados e
pendurados em uma parede, para que, segundo o trio, a alma pudesse
subir aos céus. O destino de outras partes do corpo ainda é incerto.
Segundo o delegado, eles eram levados para um local chamado de "terreno
sagrado". Bruna afirmou que eles foram levados em um saco para o lixo.
O delegado também apresentou o livro
escrito por Jorge, no qual eram relatadas todas as etapas dos
assassinatos. No livro, Jorge escreveu trechos da Bíblia e desenhou
imagens que representavam suas conversas com os psicólogos, após a
prisão.
O grupo também é acusado de falsificação
de documentos, em dois casos. O primeiro caso é o da filha da mulher
morta. O grupo falsificou os dados da criança para registrá-la no nome
do casal. No outro caso, Jorge falsificou os documentos para se passar
pelo irmão e resgatar o dinheiro da Previdência, que seria utilizado
para cometer outros crimes.
A defesa também fez perguntas ao
delegado Paulo Berenguer. O conteúdo das perguntas envolvia o
relacionamento do trio e informações sobre a conduta do casal. Pelo
conteúdo subjetivo, algumas perguntas não foram respondidas e a defesa
foi interrompida diversas vezes pela juíza. "Eu não tenho como me deter a
responder essas perguntas porque me baseei nos fatos. Isso é da
intimidade deles", explicou Berenguer.
O delegado ainda informou que o grupo
tinha interesse de cometer outros crimes em Olinda. Pelas investigações
da polícia, outras três pessoas já haviam sido recrutadas para novos
assassinatos. As possíveis novas vítimas foram identificadas como
Paloma, Maria Carolina e Orlanda.
Durante toda a duração da primeira parte
do julgamento, Jorge se manteve imóvel, apenas escutando o que os
depoentes falavam e sem demonstrar nenhuma reação. Isabel chegou a
chorar algumas vezes e demonstrou muito nervosismo. A terceira acusada,
Bruna também demonstrou nervosismo. O julgamento continua após o
intervalo, com o depoimento dos réus, e seguirá até a conclusão da
análise da juíza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário