sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Professor que 'lançou' penicilina no Brasil faz 100 anos e lança livro

Pesquisador Milton Thiago de Mello em frente a uma parede com memórias de sua carreira (Foto: Alexandre Bastos/G1)
Do G1 DF
O pesquisador e ex-professor da Universidade de Brasília Milton Thiago de Mello, um dos primeiros cientistas a produzir penicilina no Brasil, completa 100 anos de idade nesta sexta-feira (5). A história de vida dele virou livro – "Poste de Cozumel", publicado na última sexta-feira (29) em um congresso internacional de medicina veterinária organizado em comemoração ao aniversário dele.

Mello se graduou em medicina veterinária em 1937 e ocupou cargos importantes à frente de instituições científicas e culturais. Ele foi presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, vice-presidente da Sociedade Latino-americana de Bem Estar Animal, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Foi na Fiocruz que Mello realizou o que seriam os primeiros experimentos com penicilina fora da Inglaterra, país onde o antibiótico foi descoberto. “Quando o [Alexander] Fleming descobriu, por acaso, a vacina em Londres, eu trabalhava no Oswaldo Cruz. Um tempo depois, nós desenvolvemos a penicilina no porão do instituto.” Segundo o professor, ele e outros dois cientistas usaram a vacina para curar um paciente que sofria de sífilis.
O primeiro segredo é manter boas amizades, sem amigos a gente adoece. O segundo é manter bons hábitos, comer bem, dormir bem, praticar exercícios. Mas desses últimos, eu não pratico nenhum"
Milton Thiago de Mello, professor aposentado da Universidade de Brasília
À UnB, Mello dedicou 20 anos da sua vida, onde foi professor de microbiologia,  decano e fundador do centro de primatologia da instituição.
O pesquisador estudou macacos e publicou mais de 150 artigos sobre doenças animais como a brucelose, que afeta bovinos, caprinos, suínos e pode contaminar o ser humano.
Mello realizou estudos sobre zoonoses na década de 1960 que tratavam dos riscos da doença afetar o ser humano.

Mello é categórico sobre o combate ao Aedes aegypti e ao zika vírus – doença descoberta em 1947 em macacos da floresta Zika, em Uganda. “Só existem duas maneiras de combater o mosquito. Uma delas é o ‘fumacê’, que combate o mosquito adulto. A outra, para combater a larva, é ir de casa em casa tirando água ‘podre’.”


Em 2013 o professor recebeu a maior honraria da medicina veterinária no mundo, o prêmio John Gamgee. Segundo o professor, ele foi o quarto brasileiro a conquistar o prêmio.
O pesquisador e ex-presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária René Dubois é amigo de Mello e trabalhou com o centenário durante dez anos. “Milton foi considerado um dos maiores microbiologistas das Américas.”

Próximos projetos
Mello afirma que pretende escrever um livro sobre a China. O professor visitou o país pela primeira vez há 30 anos e afirma que ajudou na cooperação científica entre o Brasil e a nação asiática. “Naquela época fui convidado para uma missão médica e acabei trazendo profissionais para cursos no Brasil. Alguns deles vieram ensinar coisas como a acupuntura por aqui”, afirmou.

No livro biográfico "Poste de Cozumel", Mello conta sete fases da sua vida, divididas em família, Exército, veterinária, ciência, ensino, sociedades e vida internacional. A divisão é inspirada nas sete faixas do “poste-de-fita”, como é chamado no Brasil o poste de Cozumel.
Perguntado sobre o segredo da longevidade, Mello diz que existem dois grandes motivos: amigos e hábitos. “O primeiro segredo é manter boas amizades. Sem amigos a gente adoece. O segundo é manter bons hábitos, comer bem, dormir bem, praticar exercícios. Mas desses últimos, eu não pratico nenhum.”
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Mello posa em frente à papelada usada em seu escritório, no Lago Norte (Foto: Alexandre Bastos/G1) (Foto: Alexandre Bastos/G1)

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