Um
estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Campina
Grande revelou que a utilização de equipamentos alternativos nos
sistemas de distribuição de água, visando minimizar o consumo,
principalmente em edifícios verticais, pode reduzir o gasto em até
83,26% ao dia. A pesquisa, que teve como foco o Bairro do Catolé, na
Zona Sul de Campina Grande, intitulada “Mecanismos poupadores de água
como suporte ao planejamento urbano”, foi realizada pelo arquiteto,
professor e pesquisador Marcelo Barros, mestre em Engenharia Civil e
Ambiental pela UFCG, com área de concentração em recursos hídricos, em
parceria com as professoras Iana Rufino e Lívia Miranda. O levantamento
foi publicado na Revista Brasileira de Recursos Hídricos.
Segundo
o professor, que leciona na UFCG e em uma faculdade particular as
disciplinas de Projetos e Planejamento Urbano, a ideia inicial da
pesquisa foi fazer um levantamento de dados da demanda de água para o
bairro do Catolé, ou seja, quanta água aquela área do município consome.
O bairro foi escolhido pelo fato de que ele vem sofrendo transformações
demográficas nos últimos anos, com a construção de muitos prédios,
tornando-se o bairro com a segunda maior densidade populacional de
Campina Grande, perdendo apenas para o Pedregal, na Zona Oeste, pois as
edificações concentram grande população em um espaço limitado.
Foi
observado que a demanda por água no bairro pode crescer bastante caso a
população siga aumentando nas proporções atuais. Foi avaliado que, em
2010, o consumo diário no bairro foi de pouco mais de 5 milhões de
litros. Para 2020, foi estimado o uso de cerca de 7 milhões de litros e,
em 2040, 8 milhões.
A pesquisa, desenvolvida durante a
realização do mestrado de Marcelo Barros, entre 2011 e 2013, indicou,
observando-se obras de 23 edifícios do bairro, que os mais de 80% de
economia, conforme citado acima, seriam atingidos por mecanismos
poupadores como torneira com arejador, chuveiro com redutor de pressão,
bacia sanitária com acionamento duplo, medidores individuais para cada
unidade habitacional e reuso de águas cinzas (água utilizada em
torneiras e chuveiros em geral das residências, excluindo-se a água
usada em vasos sanitários).
“Vimos que só a substituição dos
equipamentos desses 23 prédios já poderia representar para o bairro uma
economia de 10,42% por dia, mesmo com o restante do bairro sem se
adaptar”, revelou o professor, que, militando pela colocação em prática
dos resultados favoráveis do estudo, teve a oportunidade de levar a
pesquisa para a Secretaria de Obras de Campina Grande, no intuito de
incluir os novos aspectos no Código de Obras do município, que à época
estava sendo votado, mas os parâmetros sugeridos não foram acatados pelo
poder público. O pesquisador, no entanto, não desanima: “Está sendo
feita uma comissão para elaborar o Plano Diretor do município. Podemos
levar o estudo novamente para uma avaliação”.
Marcelo explica
que uma forma de incentivar os construtores a instalar os novos
equipamentos que, conforme procurou evidenciar, não prejudicam a
‘potência’ hídrica dos suportes já existentes, seria um desconto dado
pela gestão municipal no momento em que é requerida a licença de
aprovação do imóvel, da qual é cobrada uma taxa. Para isso, a pesquisa
dividiu as construções adaptadas em três categorias: A, B e C. Confira
abaixo os detalhes de cada uma.
A – Substituição de equipamentos com menor custo: torneiras, chuveiros, vasos sanitários e medidores individuais.
B
– Custo intermediário: Toda a categoria A, mais o aproveitamento de
água da chuva, com a construção de cisternas com sistema de bombeamento,
além de estrutura de captação pelo telhado através de calhas.
C –
Maior custo: Categoria A, mais a B, mais o reuso das águas cinzas, que
pode ser feito a partir do incremento de uma mini estação de tratamento,
que pode ser instalada durante a construção do prédio, promovendo a
filtragem e eliminação de matéria orgânica, proporcionando água para uso
em lavagens de terraços, carros e regar plantas, por exemplo. Nesta
categoria mais avançada seria possível a economia de 83,26%.
“Os
investimentos são retornados com o tempo, através da economia de água.
Porém, uma dificuldade que vemos é que há resistência por parte das
empreiteiras, pois o construtor gasta mais, mas o consumidor final que
se aproveita do gasto menor”, afirmou Marcelo Barros, retomando a ideia
de que um desconto progressivo fosse dado de acordo com a categoria do
empreendimento (A, B ou C). Ele ressalta também, como forma de
convencimento, que a divulgação de edifícios menos agressivos
ecologicamente poderia ser uma boa estratégia de marketing para as
empresas, atraindo os consumidores para esse novo estilo de habitação.
Diante
da dificuldade pela qual passa o Brasil no fornecimento de água para a
população, sobretudo na Região Nordeste, que vive longos períodos de
estiagem, Marcelo, que admitiu que o interesse dele nessa linha de
pesquisa ocorreu em virtude dessa realidade, disse que muitos desses
equipamentos ‘poupadores’ podem ser adquiridos no mercado e que há
diferentes marcas e valores. As substituições graduais, principalmente
em torneiras e chuveiros, também sendo instalados filtros simples, podem
gerar boa economia para o consumidor doméstico e empresarial.
“A
gente tem o costume de não reconhecer a água, principalmente no
planejamento urbano. Vivemos em uma região extremamente seca, onde a
ocorrência de chuvas é pontual, em um determinado período do ano. Temos
que estar preparados para essa realidade”, concluiu o professor,
graduado na Universidade Federal da Paraíba e atuante há cerca de 10
anos no mercado da arquitetura, sobretudo em edifícios verticais.Correio da PB
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