Assim como muitos brasileiros, o aposentado Roberto Rossi, de 58 anos, pretende ir ao cemitério nesta quinta-feira (2), Dia de Finados. Só que, diferente da maioria, não vai prestar homenagem aos familiares mortos, mas visitar o próprio túmulo, que está pronto até com a fotografia dele há quase dois anos.
“Eu deixo a minha foto no túmulo porque a morte vai olhar e pensar ‘esse aí já está enterrado mesmo’ e não vai me perturbar em casa”, brinca.
A lápide surpreende os visitantes do Cemitério da Saudade, em Ribeirão Preto (SP), principalmente quando Rossi vai ao local, cerca de uma vez por semana, levar algumas guloseimas “para si mesmo”: um doce fica sobre a lápide e outro vai para a boca.
“Outro dia, eu chamei um senhor e perguntei ‘gostou da foto?’. Daí ele respondeu: ‘é o senhor?’ Eu disse que era. Ele se aproximou para olhar melhor e eu me escondi atrás de um túmulo mais alto. Quando ele se virou: ‘ai minha Nossa Senhora, um fantasma!’, e saiu correndo”, diz.
Quem conhece Rossi, sabe que ele não gosta de tratar a morte como tabu. Ao contrário, sempre aborda o assunto com naturalidade e descontração. O aposentado tem até um aplicativo no celular que diz capturar a vibração dos espíritos e gosta de brincar de “caça-fantasmas”.
Rossi conta que decidiu deixar o túmulo preparado depois que sofreu o primeiro de dois infartos. De lá para cá, o estado de saúde se agravou, inclusive porque sofre com diabetes. Ao todo, ele toma 12 medicamentos por dia para controlar a pressão arterial e o nível de glicemia no sangue.
“Estou fazendo hora extra, então decidi deixar tudo pronto. Sempre quis uma foto colorida no meu túmulo, bem bonita, com os dizeres que eu escolhesse. Se deixar, minha família vai colocar qualquer coisa”, diz.
“Estou fazendo hora extra, então decidi deixar tudo pronto. Sempre quis uma foto colorida no meu túmulo, bem bonita, com os dizeres que eu escolhesse. Se deixar, minha família vai colocar qualquer coisa”, diz.
Espiritualista, Rossi diz acreditar na eternidade da alma. Por esse motivo, deixou gravado no lugar da futura data de morte o epitáfio “e a vida continua…”. Ele também afirma que não tem medo de morrer, mas espera ter uma morte sem sofrimento.
“Não quero ficar na cama de um hospital paralisado, não quero morrer de doença. Quero alguma coisa rápida. Eu já pedi: se tenho merecimento para isso, que eu morra rápido”, afirma.
Sonoplasta aposentado, Rossi explica que colocou na lápide uma foto em que aparece sentado diante da mesa de som da emissora de televisão onde trabalhou por 36 anos. Segundo ele, a profissão sempre foi motivo de alegrias e boas lembranças.
“Aquele é o lugar que eu mais gostei na minha vida. Eu vivi 36 anos naquela emissora, naquela mesa de som, e é um dos lugares onde eu já me senti mais feliz. Metade da minha vida foi felicidade, naquele lugar, sendo sonoplasta”, diz.
E não é apenas no cemitério que o aposentado brinca com a morte. Em seu perfil no Facebook, é comum postar imagens como se ele já estivesse dentro do próprio caixão ou conversando com a caveira com a foice na mão, símbolo da morte.
“As pessoas têm que se preparar, é uma coisa que faz parte. Às vezes, as brincadeiras podem ajudar a perderem esse medo, esse terror. Eu sempre aconselho as pessoas: se você tem vontade de fazer alguma coisa, faça. A gente nunca sabe o dia de amanhã”, diz.
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