sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Importante nome da cultura nordestina morre no Hospital de Cajazeiras e deixa 42 filhos espalhados pelo Brasil


Morreu no início da noite desta quinta-feira(31), o centenário poeta repentista João Batista Bernardo, mais conhecido como João Furiba, uma das maiores expressões da cultura popular nordestina.
O cantador morreu aos 100 anos em decorrência de problemas de saúde no Hospital Regional de Cajazeiras por volta das 19h desta quinta-feira(31).
Segundo familiares, o poeta apresentou problemas no seu estado de saúde e foi levado para o Hospital Regional, onde estava internado há cinco dias.
‘’Ele estava bem de saúde, há cerca de cinco dias ele vomitou em casa e decidimos trazê-lo para o Hospital, infelizmente hoje a noite ele veio a falecer’’, disse um dos filhos do poeta.
João Furiba foi em vida um dos maiores nomes da cultura nordestina.
Era um homem bem humorado que através dos seus versos de improviso conseguia retratar momentos do seu cotidiano e de instantes que viveu com cantadores nas cantorias de viola pelo Brasil.
    Considerado com um dos principais cantadores do Nordeste, Furiba conquistou prêmios pelo seu talento e se apresentou em vários Estados do Brasil e também no exterior. ‘’Papai cantou em todo o Brasil e também em países fora, no exterior’’, disse o filho emocionado.
    O poeta se casou seis vezes e em todas as uniões filhos foram concebidos. De acordo com um dos filhos em contato com o Blog do José, de todos casamentos João Furiba deixa 42 filhos espalhados em todo o Brasil. “Tenho irmãos pelo Brasil inteiro, todos estão tristes com o falecimento deste grande homem, nosso pai’’, disse o filho.
    Atualmente, o poeta morava no município de Triunfo-PB na região de Cajazeiras com sua esposa, Dona Maurícia, pessoa que cuidou de Furiba até o fim de sua vida ao lado dos cinco filhos do casal.
    O CANTADOR
    Era considerado uma lenda da cantoria nordestina e está incluído entre os maiores repentistas de todos os tempos. Gravou vários discos e publicou o livro Furiba: falando a Verdade (Editora Coqueiro: 2015).
    João Furiba começou a cantar aos 12 anos de idade, na cidade de Taguaritinga do Norte-PE, onde nasceu, com a viola que ganhou do avô. Aos 15, já fazia duetos com canhotinho, Josué da Cruz, José Alves Sobrinho, João da Silveira, entre outros grandes cantadores da época.
    No final dos anos 40, foi autor de centenas de cantorias ao lado de Pinto do Monteiro, reconhecido por estudiosos e especialistas como o maior de todos os tempos.
    No ano de 2014, o poeta  comemorou 94 anos com um grande evento. Confira uma das últimas participações de Furiba com a viola em público ao lado do poeta Edimilson Ferreira.
    Certa vez, cantando com Manuel Laurindo que terminou uma estrofe afirmando sua admiração pelo “o tigre da mão chata”. Furiba sapecou essa imortal sextilha, peça obrigatória no arquivo das obras geniais.
    “Eu admiro é a barata
    Saber voar e correr,
    Chega na lata de açúcar
    Bate um baião pra comer,
    O que come é muito pouco,
    Mas bota o resto a perder.”
    Furiba duelava com o famoso e imbatível Lourival Batista que aproveitou da ocasião para criticá-lo em virtude de se fazer acompanhar da esposa e terminou uma estrofe: “Não gosto de homem que anda / Com a mulher por toda rua.”.
    Furiba mostra sua genialidade, improvisando essa obra de arte:
    “Pra não fazer como a tua
    Que fica em casa sozinha,
    Entra homem pela sala,
    Sai homem pela cozinha,
    Eu como sou desconfiado
    Pra onde vou, levo a minha.”.
    Numa peleja com Pinto do Monteiro, Furiba, deixando de lado a mentira, falou que havia casado mesmo. Pinto não perdeu tempo e improvisou:
    “Sei que sua esposa é
    Honesta, educada e forte,
    Talvez seja a mais bonita
    Da Paraíba do Norte,
    Eita Furiba feliz,
    Ô moça pra não ter sorte!”.
    Como surgiu a fama de João Mentira? Moacir Laurentino cantou diversas vezes com João Furiba. Nos festivais de Teresina Moacir fazia a plateia delirar com as interrogações de Laurentino e as respostas de João Mentira. Moacir interroga: “Me responda como vai / Na criação de caprinos.”.
    Furiba sapecou a resposta:
    “Tenho quinhentos meninos
    Morando em minha choupana,
    Tratando da criação
    Com capim de gitirana,
    Tem cabra que está parindo
    Duas vezes por semana.”.
    Neste vídeo raro gravado em 2006, João Furiba aparece cantando.
    O poeta João Furiba era apaixonado pela imprensa de Cajazeiras. Sempre que possível visitava as emissoras e participava dos programa de Viola. Como por exemplo, do Programa Nordeste ao Som da Viola da Rádio Alto Piranhas e também do Programa Bom Dia Nordeste de Francisco Alves (Tatico) da Difusora AM.
    Poetas repentistas e radialista Tatico ao lado de João Furiba. Foto: Acervo pessoal de Tatico
    BLOG DO JOSÉ

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