Bobby Fabisak/JC Imagem
JC
Pessoas que circulam por algumas das principais ruas do Centro do Recife voltaram a ouvir falar da tocha olímpica quase três anos depois da passagem do símbolo pela cidade. Diferente de quando participou do dia do revezamento, porém, a jovem Lílian Gomes da Silva, de 18 anos, tem muita pressa. Há duas semanas, ela percorre incessantemente o bairro em busca de compradores para a relíquia. Dividida entre a tristeza por estar tendo de se desfazer do objeto e o desespero, a garota torce para que alguém demonstre interesse em pagar os R$ 3 mil de que precisa. O dinheiro será utilizado para saldar dívida contraída por sua mãe, que está deixando toda a família em situação muito complicada.
"A pessoa que deixou eu ficar com a tocha, com certeza, quis que eu ficasse com uma lembrança daquele momento tão especial. Vai ser uma perda muito grande, mas era a única coisa de valor que eu tinha para poder ajudar a minha mãe. Nos primeiros dias em que fui para o Centro do Recife tentar vender, para lojas de colecionadores, eu ficava chorando muito pela situação e porque eu ia me desfazer dela. Porque é algo muito gratificante que eu ia guardar para o resto da minha vida. Poderia ver por foto? Sim, mas não é a mesma coisa”, lamentou.
A tocha olímpica passou pelo Recife no dia 31 de maio de 2016. Lílian dividiu o percurso de 35km com celebridades esportivas como o goleiro Magrão, do Sport, depois de participar de uma ação da Coca-Cola. A empresa foi uma das patrocinadoras dos Jogos Olímpicos de 2016. Na época com 15 anos, a pernambucana jogava vôlei pela Escola João Paulo II e sua equipe foi finalista de um torneio que envolveu outras 15 instituições. Apenas os atletas dos times finalistas participaram do sorteio para condutores da tocha no Recife. Lílian foi uma das contempladas. Após o revezamento, a pernambucana pode manter a tocha, enquanto os atletas que participaram a convite do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) precisaram pagar para ficar com o objeto.
"Quando você está vivendo um momento como aquele, nem tem tantas sensações. Você apenas se sente deslumbrante. Eu não conseguia parar para pensar no que estava acontecendo. Você não acredita. Quando a gente chega no comitê, para colocar a roupa, eles sempre falam do significado e da importância, de mostrar a chama mesmo que veio da Grécia. Quando você vai carregar, você se sente muito importante e, ao mesmo tempo, não acredita no que está acontecendo. Eu me sentia deslumbrante e feliz", recordou com voz embargada.
Agora o objeto que reflete recordações tão alegres também se transformou em símbolo de esperança para Lílian e família. Ela mora com a mãe e o irmão, de 12 anos, em uma casa simples na Imbiribeira, Zona Sul do Recife. A energia elétrica acabou de ser cortada. E foi justamente em razão de toda a dificuldade financeira gerada pelo desemprego que a matriarca da família precisou se endividar.
“Minha mãe fez uma dívida porque estava precisando comprar comida para a gente e pagar algumas coisas, porque eu comecei a fazer um estágio não remunerado e ela ficou muito apertada. Ela não queria nunca que eu e meu irmão passássemos fome. Então, ela fez uma dívida. Eu achei muito errado, mas, em nenhum momento, eu deixaria a minha mãe sozinha nessa. Querendo ou não, ela fez por nós. Nós estamos passando por uma situação muito difícil, não estamos trabalhando, não temos família perto. A gente precisa se virar como dá. Às vezes, ela faz unha em casa, mas aí são R$ 15. Infelizmente não dá para muita coisa, é um arroz, um feijão”, contou.
AJUDA
Há anúncios sobre a tocha olímpica de Lílian em sites de venda online e em todas as redes sociais da pernambucana. Quem quiser ajudá-la pode entrar em contato pelo email lilianbia2010@hotmail.com. Além de tentar vender a lembrança dos Jogos do Rio-2016, a jovem também está a procura de emprego.
Nenhum comentário:
Postar um comentário