Em entrevista, o motorista contou que só conseguiu escapar porque o motorista Genivaldo da Silva Félix, de 48 anos, tentou reagir
Foto: Bruno Wendel/CORREIO
JC Online
Uma chacina provocada por traficantes vitimou quatro motoristas de aplicativo na quinta-feira (12), na periferia de Salvador, na Bahia. Os assassinos montaram uma emboscada e chamaram cinco condutores, que foram mantidos em cárcere privado em um barraco, onde foram torturados e depois executados. Um deles conseguiu fugir, após outro reagir e entrar em luta corporal com os suspeitos. Os corpos foram encontrados na sexta-feira (13) enrolados em sacos plásticos. As informações são do Correio.
O sobrevivente, que não teve nome revelado, contou, em entrevista à TV Bahia, que atendeu ao chamado de duas travestis e que escapou após o motorista Genivaldo da Silva Félix, de 48 anos, tentar reagir. Genivaldo morreu. Os outros homens assassinados foram identificados como Alisson Silva Damasceno dos Santos (27), Daniel Santos da Silva (30), e Sávio da Silva Dias (23). Segundo a polícia, eles são motoristas dos aplicativos Uber e 99.
O motorista disse que pediu aos traficantes para falar com Deus no momento da ação, e eles permitiram. "Quando eles [suspeitos] começaram a enrolar, aí perguntei 'eu posso falar com Deus?'. Ele falou 'pode', aí foi o momento que eu falei, 'o senhor é o Deus das causas impossíveis, eu estou no laço do passarinheiro, me tira do laço do passarinheiro, eleva meus olhos para os montes de um onde vem meu socorro, vem do senhor que veio do céu e da terra e quando chegou no final da oração do salmo 121', o rapaz [suspeito] colocou a pistola em cima da geladeira para pegar o morto [uma das vítimas]", relatou ele.
Os traficantes disseram a ele que estariam cumprindo ordens do chefe do tráfico. "Eu falei 'irmão, pelo amor de Deus, sou pai de família, vocês não têm necessidade de matar [as vítimas]'. Aí, ele falou: 'Se dependesse de mim, não morria ninguém, mas quem manda é o coroa'. Ele disse que era para matar todo mundo'", disse o motorista à TV Bahia.
Investigações
A polícia encontrou quatro dos cinco carros usados pelas vítimas. A Polícia Civil informou que o titular da Delegacia de Homicídios Múltiplos, Odair Carneiro, vai investigar o caso. Nenhum morador da Paz e Vida quis comentar o ocorrido.
A polícia ainda não sabe qual a relação entres as vítimas e os autores. “Ainda está tudo muito prematuro e preciso cruzar muitas informações”, disse o delegado Jesus Barbosa, responsável pelo levantamento cadavérico, sem dar mais detalhes. Os corpos foram encontrados ainda dentro da comunidade, num área de estrada de terra.
O perito médico Marcos Mousinho, do Departamento de Polícia Técnica (DPT), comentou o fato do suposto envolvimento de duas travestis e três homens no crime. “Sim, alguns policiais comentaram essa versão, mas, para a perícia de local de crime, não é relevante, mas a informação está sendo apurada pela Polícia Civil”, disse Mousinho.
De acordo com o perito, as vítimas não foram executadas onde os corpos foram deixados. Um rastro de sangue levou os peritos para um barraco, a cerca de 10 metros. Dentro do imóvel, de chão de barro e erguido por pedaços de madeira, no que seria uma sala, havia um fogão velho e poças de sangue. Mais ao fundo, um gambá morto sobre uma cama. Já nos fundos, poças de sangue, em posições distintas. “Foi aqui que eles foram torturados e mortos”, declarou Mousinho.
Suspeito foi morto
O suspeito de ser o mandante da chacina, o traficante Jeferson Palmeira Soares Santos, de 30 anos, foi morto no sábado (14). Segundo a família, que foi reconhecer o corpo no Instituto Médico Legal (IML), o crime teria sido ação de uma facção rival. Isso porque receberam fotos e vídeos de Jeferson sendo agredido e morto no dia seguinte à chacina. O pai do criminoso, o autônomo Carlos Alberto Soares, 65 anos, e uma prima, que preferiu não revelar o nome, também estiveram no IML e confirmaram o envolvimento dele com o tráfico.
Esclarecimento da Uber e 99
Alguns parentes das vítimas estiveram no local, mas não quiseram falar sobre o assunto. Procurada, a 99 informou que está apurando o caso. Através de nota, a empresa lamentou profundamente a situação e diz que se solidariza com a família das vítimas. "A plataforma reitera que repudia veemente esse tipo de violência e está disponível para colaborar com as investigações da polícia", afirmou. A assessoria da Uber confirmou que alguns dos motoristas faziam parte da plataforma, mas não deu dados individuais. A empresa afirmou em nota que também está ajudando as autoridades policiais na apuração do caso. "A Uber lamenta profundamente o crime brutal e chocante ocorrido em Salvador e se solidariza com os familiares e entes queridos das vítimas nesse momento de consternação", diz o pronunciamento.
Protestos por segurança
No último dia 11 de novembro, motoristas de aplicativo de transporte realizaram uma manifestação para pedir mais segurança após mortes de condutores registradas no Grande Recife. Em janeiro de 2019, a categoria já havia realizado uma manifestação semelhante.
Thiago Silva, 50, líder da comissão dos condutores, afirmou que o governo acatou as reivindicações da categoria e avaliou a reunião como positiva, após uma reunião de aproximadamente 1h com a participação de representantes da Associação dos Motoristas de Aplicativo, do secretário executivo da casa civil do Estado, Eduardo Figueiredo, e o Delegado Cláudio Borba, representando a Secretaria de Defesa Social (SDS).
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