Joel Carlos e as advogadas prestaram queixa, nesta terça (2), em Igarassu, no Grande Recife — Foto: Joel Carlos/Cortesia |
A Polícia Civil está investigando um caso de injúria racial contra um artista negro que foi alvo de agressões verbais publicadas por um religioso em uma rede social. O ator e dançarino Joel Carlos Francisco, de 42 anos, prestou queixa contra o pastor Aijalon Berto, que o chamou de “feiticeiro”, ao comentar um vídeo institucional que pedia precaução durante o carnaval por causa da pandemia.
O fato aconteceu no dia 12 de fevereiro, mas só foi registrado nesta terça, de acordo com a polícia, na Delegacia de Igarassu, no Grande Recife, onde aconteceu o fato. “Foi instaurado inquérito policial para apurar o caso”, disse um comunicado enviado pela corporação.
De acordo com as advogadas do artista, foram feitas também queixas de intolerância religiosa e uso ilegal da imagem.
“Pedimos a retirada imediata do vídeo e o fim das agressões. Depois, vamos entrar com a ação por danos morais e uma ação cível. Pretendemos acionar o Ministério Público”, afirmou a defensora Juliana Lima, uma das responsáveis pela causa.Segundo Joel Carlos, tudo começou às vésperas do carnaval deste ano, que teve as festividades suspensas por causa da Covid-19. Um decreto foi editado pelo governo do estado para impedir aglomerações.
No dia 7 de fevereiro, o arista gravou um vídeo institucional para a prefeitura, pedindo que a população respeitasse as regras de distanciamento social e evitasse ir para as ruas.
Em um dos trechos, Joel diz “evoé”, uma saudação usada nas festas carnavalescas, dizendo que as pessoas deveriam se guardar para os festejos do próximo ano.
O termo, de acordo com o dicionário, é “um grito festivo com que as bacantes evocavam os deuses na antiguidade”.
No dia, 11 do mesmo mês, conta Joel Carlos, a prefeitura passou a divulgar o vídeo. Logo em seguida, o pastor Aijalon Berto, da Igreja Evangélica Ministério Dúnamis, de Cruz de Rebouças, distrito de Igarassu, gravou um vídeo, contendo ataques ao artista e à prefeitura.
“Ele me chamou de feiticeiro e denegriu a minha imagem. Moro há 32 anos na cidade e tenho 25 anos de atividades culturais. Disse evoé no vídeo como uma saudação aos foliões e não quis atingir nenhuma religião”, declarou Joel Carlos.
No vídeo, postando no Instagram, o pastor questiona o uso do termo “evoé”. “O sangue de Jesus tem poder. Igarassu precisa se arrepender e ter um encontro com Cristo. Como é que a prefeitura lança um vídeo desse? A prefeitura está ligada intrinsecamente aos poderes demoníacos”, diz o pastor.
O religioso também ataca o ator. “Quando esse camarada fala evoé, é uma palavra de maldição. Maldição espiritual para esse ser. A minha cidade tem um dono”, acrescenta.
Ao se referir ao vídeo, o pastor Berto chama de “feiticeiro” quem “preparou esse texto aí”. “ Ou será que foi improvisada essa palavra mística? É uma evocação para um espírito que ilumina o carnaval”, disse.
O G1 entrou em contato com a prefeitura de Igarassu para saber se o município vai tomar alguma providência, mas não recebeu a resposta até a última atualização desta reportagem.
Pela fé
Por telefone, o pastor Berto afirmou que não tem medo de ser investigado por causa das palavras proferidas no vídeo. "Nós vamos ser salvos pela fé", afirmou.
O religioso afirmou que não teve como objetivo denegrir a imagem do artista e disse que o foco, na verdade, era a prefeitura de Igarassu.
"Esse vídeo faz parte da celebração do deus Baco. As escrituras dizem que isso é adoração ao demônio", declarou.
Sobre as denúncias do ator que está no vídeo, ele afirmou que "as pessoas se sentem ofendidas pela verdade". "Não voltarei atrás. Fiz o uso da palavra de Deus", acrescentou. G1 PE
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